Arquivo mensal: janeiro 2014

Acordei com Cássia

Ontem dormi mais tarde que o normal, isso porque estava acompanhada.

Uma companhia tão intensa que sua presença me obrigou a permanecer muito mais tempo ao seu lado. Dormi com Cássia Eller e acordei com ela, cantando e terminando de ouvir parte de seu repertório maravilhoso. É até engraçado falar de Cássia, pois no auge de sua fama eu era pequena e só sabia cantar Malandragem e Segundo Sol. Não podia me considerar uma grande fã. É engraçado porque hoje ela me preenche de uma maneira inexplicável. Sempre sorrio ao escutar suas músicas. Arrepio. Sinto de um tudo, e  me impressiona que o resto do mundo não sinta o mesmo. Impressiona que ninguém saia gritando e cantando Cássia pelas ruas. Já senti vontade de fazer isso.

Não existe voz que se compare à dela, não existe definição, já que a Cássia era tudo em uma. Rock, pop, samba, pagode… Era autêntica. E fazia da música uma verdadeira arte. Costumo dizer que aprecio as coisas do Brasil, e aprecio mesmo. Acho que temos um grande potencial, o problema é que não sabemos reconhecer isso, queremos tudo que vem de fora. Cássia era brasileiríssima.

O único show que fui na vida foi o do Nando Reis, aqui em Santa Maria, e não é novidade para ninguém que a Cássia e o Nando eram grandes amigos – uma dupla maravilhosa. Em determinado momento do show, Nando se lembra de Cássia e canta All Star, música dedicada a ela. Fiquei sabendo da homenagem apenas naquele dia e interpretei a música de uma maneira diferente das outras vezes em que já tinha escutado. Não se tratava de um amor carnal, ou de paixão. É uma declaração tão pura que chega a ser romântica. Era um tipo de amor desses que não se encontram em qualquer rua.

Decidi escrever sobre isso porque tenho transbordado Cássia Eller nos últimos dias, a ponto de que não consigo deixar todo esse sentimento só para mim, sentindo necessidade de compartilhar: Cantar Cássia, gritar Cássia, viver Cássia, dormir e acordar com Cássia.

Deixo uma lista de minhas músicas preferidas, na certeza de estar esquecendo outras tantas maravilhosas.

E antes que eu esqueça… Amo a risada dela.

27 de Janeiro

ImagemCompletado um ano da data que marcou para sempre.

Quando penso na tragédia da Kiss, penso em como o tempo e as circunstâncias mudam tudo em nossa vida. Lembro de quando a Kiss era apenas uma boate, bem frequentada, cheia de boas lembranças. Lembro de ter ido apenas uma vez, em tempos melhores. Hoje, a Kiss tem uma conotação ruim, de dor e saudade.

O tempo passa rápido, lembro do dia 27 de janeiro de 2013 como se fosse há poucos dias. Lembro da sensação ruim de estar vivendo um pesadelo, do medo de ter algum conhecido, do sentimento pesado no peito. Uma tristeza que tomou conta da cidade – e do mundo.

Não conhecia ninguém que estava lá, mas a tristeza é inevitável. 242 mortes. 242 histórias interrompidas. 242 possíveis amizades. E se eu viesse a conhecer aquele rapaz do sorriso bonito? Aquela menina simpática? Aqueles irmãos inseparáveis? São tantos sentimentos, tantas recordações. Tantas tristezas. É tudo tanto, que nem dá para explicar ou descrever. Só sabe quem viveu a dor de perder um pedacinho de si.

Santa Maria parou no dia 27 de todos os meses. Santa Maria ainda para quando lembra de cada sorriso que se foi. Mas ao mesmo tempo, Santa Maria ficou tão unida que não poderia ser conhecida de outra maneira que não fosse “Coração do Rio Grande”.

Santa Maria, nome merecido de nossa Mãe do Céu. Cheia de histórias, de tristezas e alegrias, de uma força sem igual.

Vi toda a solidariedade de pessoas que não tinham nada a ver com o ocorrido, mas que se sensibilizaram de uma forma indescritível. Vi o amor renascer das cinzas. Doeu. Ainda dói, bem no cantinho do coração. Mas a vida segue, ainda que a saudade lateje e a gente pense em desistir.

Sei que nada do que eu disser fará muito sentido comparado a tanta dor e sofrimento, mas minha maneira de rezar é escrevendo. Cada palavra é um sentimento, uma oração, um desejo de dias melhores a todos nós.

Que essa rosa branca represente a paz de corações silenciados, carregados de uma saudade pura que nunca vai sarar. Que cada coração vivencie a esperança de uma manhã melhor, sem esse sabor amargo.

Força, Santa Maria.

Jantar

“Quero comer pouco e pagar caro”, disse ela. Não entendi bem esse raciocínio, eu penso o contrário: Quero comer muito e pagar pouco. Mas fomos para um desses restaurantes chiques em que o champanhe é servido como se fosse água.

Bebemos um pouco. Conversamos, rimos, mas eu sabia que meu vestido não combinava com aquele lugar. Ignorei. Pedimos um risoto de salmão e uma carne que nem lembro mais o nome, acompanhado por um molho que também não sei de quê era. Nunca havia comido salmão, quanto mais o risoto dele.

Quando a comida chegou, esqueci completamente de todas aquelas regras de etiqueta que ignorei durante toda a minha vida, e minha mãe sempre fez questão de ensinar. O garfo era segurado em qual mão mesmo? Para pegar a salada havia duas colheres e não seria eu se o caminho da salada até o meu prato não fosse totalmente descoordenado. Decidi comer como eu sabia, o garfo na mão direita. Estendi o guardanapo de pano no colo e o derrubei duas vezes simplesmente por esquecer que ele estava lá.

Comi. Repeti. Estava tão bom que um pensamento rápido de pedir uma quentinha daquilo que sobrasse passou pela minha cabeça. Com certeza ninguém comeria o resto intocado daquela panelinha. Pensei em protestar, dizer quantas pessoas morrem de fome no mundo e que, na minha casa, comeríamos sem hesitar. Mas permaneci quieta. Deixei que levassem as sobras e esperamos pela sobremesa.

Petit Gateau. Delicioso. Nunca havia comido, sequer sabia por onde começar. O prato era enorme, um pedaço daquele bolo de Petit Gateau e duas bolas de sorvete de creme. Não fazia ideia do que fazer com as duas colheres no prato, se usaria apenas uma.

Comecei pelo bolinho, coloquei na boca e estava quente. Não a ponto de queimar, estava gostoso. Depois peguei uma colherada do sorvete e os misturei na boca mesmo. Então me ensinaram que aquele era o jeito errado de comer. Eu devia unir os dois em uma colher e comê-los juntos. Fiz, atrapalhadamente, sujando todo o prato na tentativa de pegar um pedaço de um e um pedaço de outro. Estava óbvio que aquele não era o meu lugar, nem me atrevi a espiar olhares inquietos. Comi. Adorei. Deixei metade que uma amiga ajudou a terminar (culpa de meu estômago muito menor que meus olhos) e tomei um gole de champanhe pensando em quanto teria saído tudo aquilo.

No fim da noite, acabei não gastando um centavo. Saí da janta como convidada, sequer precisei utilizar o cartão de crédito. Não sei quanto custou, mas fiquei pensando nos lugares que costumo frequentar, em que não há tantas regras, tantos certos e errados.

Pensei nas noites entre amigos com risadas altas e piadas sem graça que acabam nos fazendo rir. Cachorros-quente de ponta de esquina, pizzarias, Xis do Dariu, Cheetos com refrigerante comprado no posto e, o mais “chique” que já havia chegado, madrugadas na Subway. Sem preocupações com o guardanapo de pano, garfo e faca ou molho escorrendo no lábio. Conversas altas e cheias de sorrisos. Lembranças do colégio, aquele colégio mal falado, feio, mas com tantas histórias. Sem nenhuma ambição. Sem falar de viagens internacionais, carros importados, produtos adquiridos e anéis de noivado. Não que tudo isso não seja bom, deve ser, mas o que me preenche mesmo são as noites com refrigerante gelado, um Xis bem gordo e sentimentos de verdade, em que comprar um Fusca parece ser a melhor aquisição do ano.

“Quando eu tirar minha carteira vamos curtir, hein?”, naquele carrinho roxo e antigo que guardo na garagem.

Meu bem,

escrevo para dizer que não está dando certo. E você sabe. Mas sabe também que só escrevo isso numa tentativa de fazer com que sinta a dor de quase me perder, e passe a compreender mais a nós.

Não está dando certo, mesmo. Você é destro, eu canhota; você estuda, eu muito pouco; você crê, eu não; você é sincero, eu minto até nas pequenas coisas; você foge, eu assumo. Andamos em direções opostas, meu bem. Você corre dos meus passos enquanto eu procuro pelos seus.

E mesmo assim, tentamos. Teimosia minha, talvez. Insistência sua. Um amor plantado, cultivado… Quase frutificado. E, meu bem, como queria que você insistisse um pouco mais na minha teimosia. Acho que foi o que nos uniu. Hoje, teimo e você aceita. Não luta pelas coisas que um dia foram nossas. Sempre tira a toalha de cima da cama quando peço, lava as louças e guarda os sapatos no lugar. Para onde foram nossas discussões? Nosso diálogo, nossa rotina…? Não sabe que eu adorava escutá-lo argumentar quando não queria lavar a roupa? Você sempre vencia, mas acabávamos os dois na máquina, separando as minhas roupas das suas.

Hoje, você lava sozinho. E está tão independente… Gostava de quando perguntava qual a melhor marca de sabão em pó. Eu respondia qualquer uma, mas você sempre perguntava. Para onde foi nosso diálogo…? Nosso casamento, meu bem?

Escrevo porque, hoje, você lê muito mais do que fala. Lê qualquer coisa. Não que você não lesse antes… Mas compartilhava suas leituras comigo. Líamos madrugadas inteiras até sermos vencidos pelo sono. Hoje, você lê. E lê sozinho. Sou um objeto na sala enquanto termina sua leitura. Então, deixo esse recado na página daquele seu livro de cabeceira (que sequer sei a história) para que leia algo meu. Algo que digo todos os dias, e você não escuta. Para que voltemos a conversar.

Se quiser responder, aceito por escrito também. Deixe ao lado da louça limpa que você lavou sem discutir de quem era a vez.

Quase não lembro de sua voz, meu bem. Ou de seu nome.

Escreva.

Mudar o Mundo

E se eu tivesse lido Machado de Assis na quarta série? Frederico García Lorca seria meu amigo íntimo, hoje?

Quando penso em Literatura sempre me vem um sorriso bobo, e uma vontade de conhecer todos os universos já criados. Vem aquela vontade de criar um universo, mesmo sabendo que fazer isso é muito mais difícil do que parece. É difícil porque tudo que sei até hoje ainda é muito pouco. Mas… E se eu tivesse começado nisso antes?

Ler não é uma coisa fácil para quem não sabe como começar. Não é passar as folhas e terminar aquele livro em dois dias. Ler é interpretar. É entender o que está nas entrelinhas daquilo que parece ser tão óbvio, mas que tem outro sentido implícito.

Penso em terminar meu curso de Bacharelado em Letras e fazer reingresso para a Licenciatura. Quem sabe, na Licenciatura, eu mudasse o mundo aos pouquinhos? E se meus alunos se apaixonassem por Gregório de Mattos? Vinícius de Moraes? Machado de Assis? Clarice Lispector? São todos tão apaixonantes que, tenho certeza, se tivesse conhecido antes, hoje seria uma admiradora de Saramago, sem muita dificuldade de entender seus textos.

Ler não é fácil, mas depois que a gente aprende, cria gosto pela coisa. É um filme com mais história, mais emoção, mais aventura, mais tudo…! E tem coisa melhor que ficar com aquele gostinho de adiar o sono só para ler mais um capítulo?

Se eu apresentasse Eça de Queirós no primeiro ano, tenho certeza de que se apaixonariam. Se eu apresentasse O Tempo e o Vento, meu Deus! Todas as meninas amariam e odiariam o tal Capitão Rodrigo, da mesma maneira que eu amo e odeio.

Se eu lesse poesias para as crianças, elas sorririam. Ou chorariam. Mas sentiriam algo! Veriam que as letras são tão fascinantes que sempre dá para tirar um pouquinho a mais de cada uma delas. Veriam que um mais um nem sempre é dois, quando se trata das letras. Ab + Ba não é a mesma coisa. E mergulhariam em um mundo tão maravilhoso em que mentiras contam verdades.

Ensinaria a não terem medo de mergulhar, nem de se afogar. Morrer de amor pode ser bom. 

Ah, se eu pudesse mudar o mundo… Mudaria. E todos morreriam, reviveriam e contariam as histórias de suas idas e voltas… E todos acreditariam. Porque não precisa ser verdade para se viver aquilo que está escrito. Basta fechar o olhos e se afogar.

Presente!

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Natália Faria – Desenhista, jogadora de LOL e irmã nas horas vagas.

 

Ganhei um cabeçalho novo para o blog, por livre e espontânea pressão.

Já faz tempo que eu queria mudar um pouco as coisas por aqui, mas como nunca fui uma grande designer, acabava adiando a ideia. Nada como uma boa crise de mulherzinha para fazer as coisas mudarem.

Existem alguns períodos da vida em que acabo ficando mais criativa, e isso acontece muito aleatoriamente. Quando preciso da criatividade ela nunca está lá, e quando não tenho nada para fazer com essa inspiração, que insiste em querer sair de mim, fico de férias. Coisas da vida.

Essa semana tenho me sentido criativa de uma forma que não me sentia há muito tempo, então decidi mudar. Não muito, apenas o suficiente para me fazer sorrir.

Já falei sobre minha irmã artista e talentosa, mas que dificilmente gasta seu tempo para desenhar o que os outros pedem. E eu até entendo, o lado artístico não funciona quando o outro quer. Digo por experiência, se não consigo escrever nem quando eu quero, imagina quando os outros querem.

Mas, depois de muito chorar, fui atendida. Ela desenhou uma imagem de título para o meu blog, bem no meu estilo – sorri, e muito. Todos esses elementos da imagem têm grande significado:

  1. Máquina de escrever: Tenho um tipo de fascínio por esse item quase extinto. Acho lindo e, como gosto das coisas no papel, acho que escreveria muito em uma. É até um pouco triste pensar que coisas tão maravilhosas deixam de existir aos poucos. Não acho que o computador substitui o papel, e meu sonho de ter uma máquina de escrever agora enfeita a página do meu blog.
  2. Esmaltes: Amo pintar as unhas, perco grande parte do meu dia me esforçando em retirar cutícula e limpar o excesso do  esmalte. É comum ver alguns esmaltes espalhados pela mesa, hábito que estou tentando mudar para que o quarto fique mais arrumadinho.
  3. Caneta, lápis e borracha: Escrevo, sempre escrevi e sempre vou escrever. Esses objetos fazem parte do meu quarto, e de mim. Gosto de escrever no papel, tanto que, muito do que vem parar aqui, antes esteve escrito em alguma folha solta, e eu apenas transcrevo. Penso melhor quando escrevo no papel.
  4. Mãos e pernas: Eu, é claro. Moreninha como sou. Sempre meio torta, fazendo aquilo que mais amo fazer: Escrever.

Tudo isso só contribuiu para que eu continuasse procurando melhorar meu desempenho por aqui. Tenho andado ausente, culpa dos dias cheios (que não me permitem parar e pensar) e dos dias vazios (em que não há o que pensar!).

Agora que as férias se aproximam terei tempo para minhas bobagens.

E como agradecer à irmã mais linda do mundo por esse presente tão cheio de carinho? Simplesmente não dá. Ficarei babando por algum tempo.

Espero voltar com bastante ânimo e histórias mais felizes. Sei que os textos estão um pouco dramáticos, mas juro que não estou em depressão! É meu lado de (falso) poeta falando mais alto.

See ya!

Pronome pessoal do caso reto

Tu.

É o barulho que faz quando a chuva pinga na poça cheia de água, inundando a ponto de se espalhar pelo chão e criar novas poças.

São os meus dedos tocando o teclado, nessa melodia de quem escreve por obrigação e por necessidade.

É o teu telefone ocupado, exclamando que eras tudo que eu precisava: Tu.

Na minha gramática, na minha agenda, na minha janela, lembrando a todo momento que tu, e apenas tu, preenchia o espaço vazio entre o café da manhã e o almoço.

Tu, que fazia o som da música mais linda ao falar e ao rir.

Seja o sujeito da minha oração, pois só penso em ti ao juntar as mãos. Minhas palavras pedem para que venha e deixe-me completar o sentido do teu verbo.

Do verbo amar.

Ame a mim.

Insônia

ImageEscrevo.

Porque a madrugada é longa e meus dias tão curtos.

Escrevo por medo de que um dia minhas palavras acabem ou não façam mais sentido. Não que tenham significado muito, mas escrevo na tentativa de encontrar sua razão.

Se é que há alguma.

Só sei que escrevo. Poemas, crônicas, textos sem forma, sem literatura, mas que dizem tanto daquilo que sou e penso. Escrevo para não perder a fala. Porque sinto que se não soubesse escrever, não saberia falar. Escrever é tanto… Tanto que me brotam as palavras sem que eu pense nelas! Saltam como se tivessem vida própria, e já não sou mais eu quem coordena seu ritmo inquieto. Não sou eu quem conjuga verbo, quem determina vírgula, espaçamento, fonte, cor, negrito, nada… Acontecem por si só.

Minhas letras são autônomas.

E agem tão sozinhas que namoram entre elas. Decidem destinos, inventam histórias, apaixonam-se entre si! E seus romances me deixam boba… Dá vontade de experimentar só para saber como é.

Queria saber criar palavras, dessas que ninguém conhece, mas que todo mundo sabe quando lê, ou quando sente, em madrugadas mais curtas que estas que tardam a passar.

Protesto de um corpo

Sou!

Verbo irregular, carregado de sentido.

Grito que sou! Um corpo, ora essa! E como corpo tenho meus direitos!

Não quero: Filhos, roupas, cigarro, bebida, salto alto, banho quente, e nenhuma dessas coisas que agradam só a você. Não vê que está me destruindo? Os filhos que você quer rompem a mim. Suas roupas me sufocam. Seu cigarro e sua bebida me desgastam. Seu salto me machuca. Seu banho quente queima minha pele sensível. Sou um corpo, tenho autonomia!

Não gostaria de ir trabalhar. Estou cansado, não tenho culpa se o cérebro decidiu ficar acordado até as quatro da manhã pensando naquele artigo. Ninguém mandou fazê-lo de véspera.

Não me fure, por favor! Não tenho culpa se seu vizinho acha piercing atraente, ou se você quer pôr “um brinco” no nariz. Quem ficará inchado durante dias serei eu!

Tatuagem também não, a não ser que queira tatuar uma estrelinha na nádega. Lá tem bastante carne e posso até pensar no seu caso.

Passe protetor solar! Ou seu bronzeamento ficará no estilo camarão, e arderei por semanas.

Alimente-me! Nada de dietas malucas, ninguém está afim de ver seus ossos, e minha função é escondê-los.

Deite de bruços: minha posição favorita. Quando você dorme de conchinha é realmente desconfortável!

Não pense que é meu dono! Tenho autonomia e posso dizer o que quero e o que não quero! Já pensou em perguntar? Ora, pare de ser tão prepotente!

Escute! Estou gritando há anos. Você só se dará conta aos oitenta, quando tiver hérnia de disco e bico de papagaio. Escute quando grito protestando contra sua postura desconfortável, seus maus hábitos, e não me recrimine por reclamar.

Como corpo, minha única função é ser essa matéria que nada faz, apenas obedece ao cara do andar de cima: O cérebro. Pare de pensar tanto nele e pense mais em mim. Deixe que eu mande um pouco nas coisas por aqui, as coisas que na verdade sou eu. Pare de se importar com sua consciência, não ligue para esses valores que me reprimem tanto.

Afinal, sou! Pés, joelhos, coxas, quadril, barriga, peito, braços, pescoço, cabeça: um corpo!

Amar-go

Luís nunca foi bonito

Eva amava Luís

Luís fazia Eva rir, assim como fazia rir Patrícia, Maria e Bia

Eva só ria para Luís

Luís gostava do sorriso de Eva, assim como gostava do sorriso de Patrícia, Maria, Bia e Joana

Eva foi de Luís

Luís não foi de Eva

Luís não era de ninguém

E a vida de Eva esvaziava, vivendo a sombra de um amor pela metade

Dividido

Retalhado

Sem Luís

nem João

ou Pedro

E vivendo as dores do doce que faltava

amargou.