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Insônia

ImageEscrevo.

Porque a madrugada é longa e meus dias tão curtos.

Escrevo por medo de que um dia minhas palavras acabem ou não façam mais sentido. Não que tenham significado muito, mas escrevo na tentativa de encontrar sua razão.

Se é que há alguma.

Só sei que escrevo. Poemas, crônicas, textos sem forma, sem literatura, mas que dizem tanto daquilo que sou e penso. Escrevo para não perder a fala. Porque sinto que se não soubesse escrever, não saberia falar. Escrever é tanto… Tanto que me brotam as palavras sem que eu pense nelas! Saltam como se tivessem vida própria, e já não sou mais eu quem coordena seu ritmo inquieto. Não sou eu quem conjuga verbo, quem determina vírgula, espaçamento, fonte, cor, negrito, nada… Acontecem por si só.

Minhas letras são autônomas.

E agem tão sozinhas que namoram entre elas. Decidem destinos, inventam histórias, apaixonam-se entre si! E seus romances me deixam boba… Dá vontade de experimentar só para saber como é.

Queria saber criar palavras, dessas que ninguém conhece, mas que todo mundo sabe quando lê, ou quando sente, em madrugadas mais curtas que estas que tardam a passar.

Buonanotte

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Seu fantasma não me deixou dormir essa noite. Ficou no pé do meu ouvido perguntando “Perché?” com esse sotaque italiano falso que você sabe inventar. E eu não sabia se ria ou se chorava, se imaginava algum presente alternativo em que eu teria feito todas aquelas escolhas que estavam na bandeja a minha frente e eu preferi recusar. “Estou de regime, meu bem.” Podíamos ter evitado tudo isso. Toda essa dor desnecessária e essa vontade que eu tenho de tirar a faca do seu coração, salvar a sua alma… Porque, meu amor, já se passou tempo demais. Tempo demais de escolhas erradas e corações apertados, lágrimas nos olhos e arrependimento.

Só que o seu fantasma não me deixou dormir. Ficou fazendo cócegas nos meus ouvidos, gritando como eu era uma pessoa ruim demais para ter um sono tranquilo, não consegui dormir até ver o sol começar a nascer na minha janela e eu poder finalmente sussurrar “Amanhã nós conversamos… per favore” e você se foi. Mas se escondeu em algum lugar do meu peito sem me deixar pensar, escrever, trabalhar, nada.

Quase não respiro, meu bem. Saia daí e vá viver porque eu preciso respirar.