Todos os posts de estherfaria

às vezes confundo o mundo real com aquele que eu fantasio, mas a realidade sempre bate gelada na minha porta

e me sacode

“pare”, ela sussurra rígida

me encolho dentro e fora de mim

me afasto quieta

perco a fantasia

e abro a porta

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ter pra onde voltar:

os pés conhecem o caminho
pé ante pé seguem rumo ao lar

cantarolo canções enquanto me encolho (o corpo sente frio), penso na recepção dos cachorros e sigo inconscientemente (os pés sabem onde devo parar)

chaves, boas noites, os cães saudosos lambem minhas mãos: amor. casa.

a saudade alerta que há vazios, mas também abriga
estamos em casa
estou em casa

a verdade é que eu queria te participar da minha vida

falar das coisas que me deixam feliz e também daquelas que me deixam triste

perguntar qualquer bobagem que eu possa desconhecer só pra ouvir sua voz a me contar

quem sabe dormir no seu ombro e acordar com o peso da sua mão na minha cintura em um convite só nosso

queria te fazer parte de mim e ser parte de ti

sem precisar fingir uma indiferença

expectativas minhas

que nunca irão se concretizar

o quase
no meio do caminho
aquilo que não é, nem deixa de ser

o meio termo
aquele que vai sem ir e sem ficar

no limiar
entre o que poderia ter sido e que não foi

a vida
a morte
a coisa qualquer que existe nesse meio

a loucura sã
a sanidade louca
eu, controlando minha loucura há tanto tempo que já não sei que máscara vestir: aquela que sorri?

abro meu armário sem saber quando será o amanhã
sigo sendo morna, sendo nada

os doze dígitos de um documento
as iniciais que não dizem nada sobre mim

sou o quase

uma a uma, fui me perdendo em ti

cada camada minha despida
partes que tu vestiu
como um encaixe todo nosso

então fui poesia:
inventei rimas e palavras
sorvi o meu prazer mesclado ao teu

derreti pouco antes do fim
vertida em água
com a boca seca
de uma saliva que se transferiu
em uma união de nós dois

vamos tomar uma cerveja?

trocar uns beijos?

me pega no colo, na rua, o cheiro de cerveja passando de ti pra mim e vice-versa

silêncio

não há cerveja

nem beijos, colo ou rua

deparo-me com todas as vontades saltando de mim e eu tendo de contê-las

desejo felicidades

e parto

Sincronia

A garganta fechada só queria dizer as coisas que estavam entaladas. Gritar não era o suficiente para expelir a quantidade de informação acumulada, e Deus sabe o quanto tive que resistir para não dizê-las todas ao mesmo tempo.

O sentimento ultrapassava a distância de dois corações. Choramos, unidas pelo sentimento que ultrapassa a distância.

Amor, segundo o dicionário, é “3. afeto, carinho, ternura, dedicação”, e eu ainda achei essa definição pequena perto daquilo que nos une. Pequena perto daquilo que está guardado no peito. Daria uma outra definição qualquer, mas, consciente da impossibilidade de abarcar todo esse sentimento, limito-me a dizer que amor é chorar ao mesmo tempo por uma dor que nem é sua (ou talvez seja); sorrir por uma alegria que também não é sua (vai ver também seja); e conversar com os olhos. Saber exatamente o que se passa no coração do outro, sem utilizar uma palavra sequer.

Amor se traduz no seu nome. Forma-se com suas letras, todas sincronizadas na mesma sincronia do nosso sentimento, das nossas lágrimas, dos nossos sorrisos e dos nossos olhos.

acordei de um sonho bom

a realidade às vezes endurece a gente: no sonho, eu fazia exatamente aquilo que sentia vontade. sem receios, sem o medo iminente de qualquer coisa explodir nas minhas mãos.

sonhei banalidades: rua, risos, beijos, colo, verdades…

acordei com a frustração de mais um dia quieto, outra manhã morna em que todos os meus desejos se esvaem pela janela. acordei adolescente – insuportavelmente dramática. a menininha aquela que se sentava na primeira cadeira, com sua agenda e ombros encolhidos para esconder-se de qualquer um que tentasse (me) ler.

a gente sempre acaba criando um refúgio, até quando não há. meu mundinho inventado ainda existe em algum lugar, ainda que nem sempre eu consiga acessá-lo.

no sonho, consegui estar exatamente onde gostaria.

– acordei –